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quarta-feira, 7 de maio de 2008

O PENTECOSTES

Pastor Horst Kuchenbecker

O Consolador,
o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome,
esse vos ensinará todas as cousas, e vos fará lembrar
de tudo o que vos tenho dito.
João 14.26

DA SANTIFICAÇÃO

Creio no Espírito Santo,
na Santa igreja cristã -
a comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne
e na vida eterna. Amém

Que significa isto?

Creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele; mas o Espírito Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé.
Assim também chama, congrega, ilumina e santifica toda a cristandade na terra, e em Jesus Cristo a conserva na verdadeira e única fé.
Nesta cristandade perdoa a mim e a todos os crentes diária e abundantemente todos os pecados, e no dia derradeiro me ressuscitará a mim e a todos os mortos, e me dará a mim e a todos os crentes em Cristo a vida eterna. Isto é certamente verdade.

PENTECOSTES
Introdução

Pentecostes é a festa do Espírito Santo, o aniversário da Igreja cristã. Neste dia, Deus enviou o Espírito Santo, o Consolador, conforme Jesus prometera: “Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26). “Ele glorificará a Cristo” (Jo 16.14).

Nos últimos anos, a doutrina do Espírito Santo está sendo reexaminada por quase todas as igrejas cristãs. Pois o pentecostalismo - um movimento que já perpassa quase todas as denominações cristãs - dá grande ênfase à ação do Espírito Santo. Este movimento afirma que existe um segundo batismo, o batismo no Espírito Santo, que confere dons especiais aos cristãos, tais como o falar em outras línguas, curar doentes, ter revelações e interpretações especiais, etc. Nos cultos pentecostais as pessoas têm oportunidade para expressarem seus sentimentos. Elas cantam de mãos levantadas, batem palmas, oram em voz alta, gritam aleluias, saltam, etc. As pessoas dizem: Neste culto sinto a presença de Deus e saio dele muito aliviado e confortado. Essas igrejas têm grande afluência de pessoas. Enquanto isso, as igrejas tradicionais, que conservam sua liturgia e cujos membros não expressam espontaneamente seus sentimentos (subjetivismo) nos cultos públicos, diminuem. Os pentecostais dizem: As igrejas tradicionais estão do lado certo do Calvário, mas do lado errado de Pentecostes; elas estão do lado certo do perdão, mas desconhecem o poder do Espírito Santo. Será? Onde está a verdade? Como foi possível que a igreja cristã, cujos membros devem esforçar se "por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz" (Ef 4.3), está hoje tão dividida e tem tão grandes diferenças na interpretação da Bíblia? Será que a Bíblia não é suficientemente clara? Onde está o problema? Vamos examinar a doutrina do Espírito Santo.

I - A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo é a terceira pessoa da Santíssima Trindade. Ele é Deus igual ao Pai e ao Filho. Ele procede do Pai e do Filho (Jo 15.26), mesmo assim não é anterior nem posterior, mas igual ao Pai e ao Filho em poder, glória e majestade (Cf.: Credo Atanasiano). A Escritura afirma: “O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto, e te dê a paz” (Nm 6.24-26). “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”( Mt 28.19). “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (1 Co 13.13). A Bíblia fala do Espírito Santo da primeira à última página. O Espírito Santo estava presente na criação. Ele pairou sobre as águas (Gn 1.2). Ele guiou a Moisés e seus 70 auxiliares (Nm 11). O Espírito Santo moveu o povo para ofertar voluntariamente e concedeu dons aos artífices para os diferentes trabalho na construção do templo. Ele atuou nos juízes, ministros, reis e profetas. Quantas lutas estes líderes tiveram que enfrentar? Com quanta angústia e desespero eles se defrontaram? Nestes momentos buscaram auxílio junto a Deus, e Deus Espírito Santo os consolou, encorajou, guiou e fortaleceu. (Cf.: Ex 35.21; Jz 14.6; 1 Sm 11.6,14; 19.18; 2 Sm 23.2; Sl 51.1; Is 11.2). Mas tudo isso era apenas o alvorecer. Em sua plenitude, o Espírito Santo só foi concedido no Novo Testamento, após Jesus ter completado sua obra salvífica e ter subido ao céu. Ele disse: “E quando eu for ... rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador” (Jo 14.3,16).

A vinda do Espírito Santo foi profetizada pelo profeta Joel, 900 anos (ou 600) antes de Cristo (Jl 2.28-32). E Jesus o prometera a seus discípulos: “Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador; a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e está em vós (Jo 14.16,17). “Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 16.26). “Mas eu vos digo a verdade: Convêm-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado. Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora; quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as cousas que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar (Jo 16.7-14). O que Jesus prometeu, veio a cumprir-se no dia de Pentecostes.

II - PENTECOSTES
Após a ascensão de Jesus, os discípulos fizeram como Jesus lhes havia ordenado. Permaneceram em Jerusalém à espera da vinda do Espírito Santo.

No dia em que se iniciavam em Jerusalém a grande semana de festividades: Festa da entrega da lei no monte Sinai e a festa da colheita, cinqüenta dias após a páscoa (Ex 23.16; Lv 23.15,16; Nm 28.26; Dt 16.10), Deus enviou o Espírito Santo. De manhã cedo, ouviu-se por toda a Jerusalém um forte som como de um vento impetuoso, mas não havia vento. O som serviu para chamar a atenção e reunir o povo. Os discípulos ficaram cheios do Espírito Santo. Não sabemos ao certo onde estavam reunidos, se na casa de Maria, no cenáculo onde Jesus instituiu a Santa Ceia, ou, o que é mais provável, numa sala do templo, onde costumavam reunir-se para adoração. Ali Deus derramou o Espírito Santo sobre eles. Ele veio em cumprimento à promessa de Jesus, não por algum merecimento ou preparo especial por parte dos discípulos. Ele veio repentinamente sobre todos os que ali estavam reunidos, independente do grau de fé dos mesmos. Os sinais visíveis foram dados, provavelmente, somente aos doze apóstolos. Eles tinham sobre suas cabeças línguas como que de fogo e testemunhavam "das grandezas de Deus," em diferentes idiomas da época (At 2).

A descida do Espírito Santo do céu foi repentina e majestosa. Os sinais externos não foram os mais importantes. Importante foi o que o Espírito Santo trabalhou no coração dos discípulos e nas pessoas que ouviram o testemunho dos apóstolos. Eles, que ainda não tinham clara compreensão da obra de Cristo e da natureza do reino de Deus (At 1.6), agora, com a vinda do Espírito Santo, tudo ficou mais claro diante dos seus olhos. O Espírito Santo os iluminou e deu-lhes compreensão da salvação que Cristo trabalhou. Isto trouxe grande paz a seus corações, bem como coragem para testemunharem desta maravilhosa salvação. Eles saíram da sala e começaram a falar ao povo. Deus Espírito Santo ainda os capacitou para falarem "das grandezas de Deus" em diferentes idiomas da época, para que cada um ali presente, pudesse ouvir esta maravilhosa mensagem da salvação em seu idioma materno. Naquele dia, três mil pessoas se converteram e foram batizados em nome de Jesus. Eles formaram a primeira comunidade cristã. "E perseveravam na doutrina dos apóstolos"(At 2.46).

Este acontecimento, a vinda do Espírito Santo com sinais visíveis, foi único. Houve ainda outras quatro manifestações complementares de Pentecostes. A manifestação em Samaria (At 8.4-17), para deixar claro que os samaritanos, inimigos dos judeus, têm parte nesta salvação; em Cesaréia (At 10.44-48), para mostrar que os gentios também têm parte na salvação de Cristo; e a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos de João (At 19.1-7), para mostrar que a pregação de João teve o seu fim em Cristo. Dali para frente, Atos dos Apóstolos não registra mais sinais externos na vinda do Espírito Santo. A referência que o apóstolo Paulo faz ao dom das línguas em Corinto, vamos analisar mais ao final deste estudo. Importa lembrar aqui, que o Espírito Santo vem pelos meios da graça, palavra e sacramentos. Sua obra principal é “glorificar a Cristo” nos corações e conceder dons à sua igreja para o cumprimento de sua missão.

III - A OBRA DO ESPÍRITO SANTO
Ao examinarmos a doutrina do Espírito Santo, precisamos ater-nos fielmente à palavra de Deus. Jesus definiu a obra do Espírito Santo. Ele disse que o Espírito Santo, o Consolador, virá para “glorificar a Cristo” (Jo 16.14). O que significa isto? Significa que o Espírito Santo está incumbido de mostrar às pessoas, através da palavra de Deus, a Bíblia, quem é Jesus e o que ele fez para a salvação da humanidade. Mostrar que Jesus Cristo é o eterno Filho de Deus, gerado do Pai desde a eternidade, e verdadeiro homem nascido da virgem Maria. E que Jesus, como substituto de toda a humanidade, cumpriu a lei de Deus; e, por sua paixão e morte de cruz, por um só sacrifício (Hb 10.12) pagou pela culpa de toda a humanidade e reconciliou a humanidade com Deus (2 Co 5.19); e, ao ressuscitar da morte no terceiro dia, triunfou sobre nossos inimigos: pecado, morte e Satanás. Vejamos isto mais de perto.

Desde a queda de Adão e Eva em pecado, todas as pessoas nascem com o pecado original. Isto é, desde a concepção somos completamente corrompidos pelo pecado. A Escritura afirma: “Eu nasci na iniqüidade e em pecado me concebeu minha mãe" (Sl 5l.5). “Ora o homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2.14). “Estando nos mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo - pela graça sois salvos” (Ef 2.5). “Por isso o pendor da carne é inimizade contra Deus “ (Rm 8.7). “Por isso vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema Jesus! por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus! senão pelo Espírito Santo” (1 Co 12.3). Estas palavras mostram que, já por nascimento, somos espiritualmente cegos, mortos e inimigos de Deus.

Deus usa ainda a expressão: Vós tendes um “coração de pedra” (Ez 36.36), e precisam “nascer de novo” (Jo 3.5). O Espírito Santo está encarregado de dar-nos um coração novo, de dar-nos vida espiritual e conservar esta vida. Jesus disse: “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo; do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado (Jo 16.8-11; Ez 11.19; 36.36). Por estes meios, o Espírito Santo convence de pecado. Isto é, quando alguém ouve, lê ou relembra a palavra de Deus, o Espírito Santo atua poderosamente por esta palavra. Ele mostra à pessoa o quanto ela transgrediu os Mandamentos de Deus, o quanto o pecado corrompeu o ser humano. Mostra que o pecado é ofensa a Deus e que a ira de Deus que pesa sobre o pecador. Por causa dos pecados merecemos todos a eterna condenação, o inferno. O pecado, por menor que seja, separa a pessoa de Deus e a lança na eterna condenação. "Vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus"(Is 59.2). "O salário do pecado é a morte"(Rm 6.23). "A alma que pecar, essa morrerá" (Ez 18.4). Diante disto estremecemos, como os ouvintes no dia de Pentecostes, a respeito dos quais lemos: "Compungiu-se-lhes o coração." Eles ficaram muito aflitos, desesperados e perguntaram: "Irmãos, o que devemos fazer. E Pedro lhes respondeu: "Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus"(At 2.37,38). Isto é a mesma cousa quando exclamamos: "Senhor, misericórdia!" Então o Espírito Santo, pelo evangelho, a boa nova da salvação, mostra a justiça de Cristo. Isto é, a justiça que vale diante de Deus. Diante de Deus não podemos subsistir com nossa justiça própria, pois "nossa justiça é como trapo de imundícia" (Is 64.6). O Espírito Santo mostra que diante de Deus só vale a justiça de Cristo. "O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todos os pecados"(1 Jo 1.7). "Àquele que não conheceu pecado, ele (Deus), o fez (a Jesus) pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus (declarados perdoados e justos diante de Deus, pelos méritos de Cristo "(2 Co 5.21). O profeta Isaías exclama: "Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegra no meu Deus, porque me cobriu de vestes de salvação, e me envolveu com o manto da justiça"(Is 61.10). "Do juízo". Jesus Cristo é juiz de vivos e mortos. "Ao homem está ordenado morrer uma só vez, depois disto o juízo"(Hb 9.17). "O príncipe deste mundo (Satanás) já está julgado." Em breve Jesus virá "com poder e grande glória para julgar vivos e mortos"(At 17.31).

Eis a maravilhosa obra do Espírito Santo. Sua obra consiste em convencer as pessoas, pela palavra de Deus, destas verdades fundamentais. Chamar as pessoas das trevas para a maravilhosa luz de Deus. Este chamado não é um chamado comum, como alguém que chama o seu amigo, mas é um chamado poderoso, como quando Jesus chamou a Lázaro da morte para a vida (Jo 11). Tendo chamado a pessoa da morte para a vida, tendo levado a pessoa ao reconhecimento de seus pecados, ao arrependimento, à fé em Cristo, o Espírito Santo ilumina a pessoa com seus dons. Isto é, cria na pessoa a fé, o reconhecimento de ser Jesus o verdadeiro Filho de Deus, o Salvador da humanidade. O Espírito Santo leva a pessoa a aceitar a Cristo como seu Salvador. A pessoa confessa: É o meu Salvador. E desta fé brota o desejo de querer conhecer a Jesus mais e mais. A pessoa se apega à palavra de Deus e pede ao Espírito Santo que venha e a faça crescer na fé, a ilumine mais e mais, a faça conhecer a seu amado Salvador mais e mais. O Espírito Santo vem a esta pessoa e faz nela habitação. Começa na pessoa o que podemos chamar de limpeza e renovação do coração. O Espírito Santo implanta no coração da pessoa novas qualidades e forças. É a nova vida em Cristo. Ao mesmo tempo começa na pessoa a grande batalha que vai durar até sua morte, que tem altos e baixos, a batalha entre a sua natureza carnal, chamado o “velho homem” e a fé, chamado o “novo homem.” A pessoa une-se aos irmãos na fé, a uma comunidade cristã, tanto para fortalecimento de sua fé, como para participar nos trabalho de proclamar a palavra de Deus para salvação de muitos (Hb 11). Sobre esta renovação e a luta entre a carne e o espírito, o apóstolo Paulo fala em sua carta aos Gálatas 5.16-26). Ele afirma: “Os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito”(Gl 5.24,25). O Espírito Santo guia à toda a verdade, “a palavra de Deus é a verdade” (Jo 17.17). O Espírito consola, ele é o Consolador. Não, simplesmente, em coisas puramente espirituais, mas ele dá sabedoria para peregrinação aqui na terra. Ele consola nos momentos de desespero, na aflição e angústia, na tristeza. Ele nos fortalece para carregarmos nossa cruz e nos momentos de alegria ele nos guarda para não transgredirmos os mandamentos de Deus. Ele nos assiste nas diversas responsabilidades. Vejam como príncipes, reis, ministros recorreram a Deus em oração, buscando dele a sabedoria de vida. Por isso o apóstolo Paulo afirma: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdia e Deus de toda a consolação. É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar aos que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus” ( 2 Co 1.3,4). E: “Vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1 Co 1.30). Cuidemos, para não buscarmos conselhos em “cisternas rotas” (Jr 2.13), que não retém água (na vã filosofia humana). Vamos sempre à fonte da água viva (Jo 2.13).

Resumindo. O trabalho do Espírito Santo é levar as pessoas ao arrependimento e à fé em Cristo. Habitar nos fiéis para guiá-los diariamente na luta contra o pecado, impulsionando e guiando-os em todo o servir a Deus no próximo. Importa lembrar, não é o nosso espírito que se apossa do Espírito de Deus, mas o Espírito de Deus que vem a nós pela palavra de Deus e os sacramentos, toma as rédeas e guia nossa mente. Por isso diz o apóstolo: “Habite ricamente em vós a palavra de Cristo” (Cl 3.16).

VI - MEIOS DA GRAÇA
Como o Espírito Santo faz isto ou realiza o seu trabalho. Assisti, certa vez, o culto de um grupo Pentecostal. Eles cantaram incansavelmente um hino após outro. Criou-se um clima contagioso e sentimental. Pessoas pulando, ajoelhando, outras com mãos ao alto louvando, uns falando (no dizer deles) em outras línguas, outros interpretando. Ora cantando bem suave e de repente com a bateria e todo o volume e a toda a voz, com gritos, e as pessoas saltando. Não houve leitura da palavra de Deus, nem mensagem. Perguntei a alguém: Vocês não lêem a palavra de Deus e não têm mensagem? A pessoa respondeu: “Quem comanda o culto é o Espírito Santo. Hoje ele não deu mensagem nem para ler nem para expor, mas ele tocou os corações. Foi uma noite maravilhosa. Estou edificado.” Fiquei surpreso. Não é assim que o Espírito Santo trabalha. Ele vem a nós por meios que são a palavra de Deus e a correta administração dos sacramentos. Onde se deixa de usar estes meios - que chamamos por isso de meios da graça - ali se fecha a porta ao Espírito Santo. Ali o Espírito Santo não pode trabalhar nos corações.

No dia de Pentecostes, o Espírito Santo veio aos apóstolos direto, repentino e majestoso, conforme a promessa de Jesus: “Recebereis poder, ao descer sobre vos o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas” (At 1.8). Mas isto foi forma única. Já ao povo, reunido no dia de Pentecostes, o Espírito Santo não veio assim. O povo recebeu o Espírito Santo pela pregação dos apóstolos e os sacramentos. Deus nos amarrou aos meios da graça, mesmo que ele, Deus, esteja livre para agir. Por isso, quando Jesus ordenou a seus discípulos: “Ide fazei discípulos ...”, mostrou-lhes como deveriam fazê-lo: “Batizando e ensinando” (Mt 28.19,20). Não há outra maneira de fazer discípulos. É através destes meios que o Espírito Santo chama, ilumina, santifica e congrega. Em outras palavras, o Espírito Santo leva ao arrependimento e gera a fé em Cristo, fortalece e conserva na única e verdadeira fé somente pela palavra de Deus e os sacramentos. Estes verbos expressam a ação do Espírito Santo. Experimentamos esta ação do Espírito Santo. Mas cuidado na definição destas experiências. Elas nem sempre são palpáveis. Nossos pais cantam num hino: “Quer o sinta ou não, apego-me ao que está escrito. Deus me ama em Cristo, nele tenho perdão (HL, 371).” O oração não é um meio da graça. Jesus disse:"Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus"(Jo 3.5), a saber, o Espírito Santo vem e trabalha pelo batismo ordenado por Jesus e a pregação da palavra de Deus. O apóstolo Paulo escreve: “Assim, a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). E aos Gálatas escreve: “Recebestes o Espírito pelas obras da lei, (isto é, por merecimento, de vosso preparo, de vossas obras,) ou pela pregação da fé?” (Gl 3.2). Quando, por isso, o apóstolo recomenda: “Enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18), isto é a mesma cousa que ele escreve aos colossenses, ao dizer: “Habite ricamente em vós a palavra de Cristo” (Cl 3.15). Onde o Espírito Santo opera a fé, ali ele faz morada. O Espírito Santo passa a habitar na pessoa e a faz crescer na fé e na vida santificada. Não existem duas classes de cristãos: os com fé, mas sem o Espírito Santo e os com fé e o Espírito Santo; ou como alguns afirmam: cristãos carnais e cristãos espirituais. Existem cristãos e não cristãos, e entre os cristãos há cristãos fracos e fortes na fé. Todo o cristão, enquanto na fé, é templo do Espírito Santo (Gl 5.16-26). Isto é, o Espírito Santo está na pessoa, pela fé em Cristo, e procura guiar a pessoa em suas decisões, ajuda-la a reconhecer e vencer as tentações da carne, do mundo e de Satanás e guia-la a toda a boa obra, para que sirva a Deus no próximo em amor.

V - PERIGOS NA INTERPRETAÇÃO
Vimos que o Espírito Santo realiza seu trabalho através de meios, a saber: da palavra de Deus e dos sacramentos. Ao refletirmos sobre isso, cumpre evitar dois perigos: buscar interpretar a Bíblia só à luz da razão (escolasticismo, filosofia na escola da idade média ) ou buscar o Espírito Santo fora da palavra de Deus (misticismo, contemplação espiritual, para entrar em contacto direto com Deus, sentir a Deus).

Algumas pessoas colocam a razão sobre a Bíblia. Manejam a palavra de Deus só com a razão. Bem, eu preciso usar a razão para ler e estudar a Bíblia, mas minha razão deve permanecer subordinada à palavra de Deus e não pode ser juíza da mesma. Pelo estudo da palavra de Deus, o Espírito Santo ilumina, chama a Cristo e gera confiança na graça de Cristo, consola e guia na vida santificada. Por isso, ser cristão não consiste simplesmente em possuir alguns conhecimentos bíblicos e aceitar algumas doutrinas. Tal conhecimento os demônios também podem ter. Lutero respondeu a esta grupo: "A fé não é simples conhecimento acadêmico (simples filiação a uma congregação). A fé é um dom (presente) do Espírito Santo, é confiança na graça de Cristo. Por isso a fé é algo vivo e eficaz, é ser regenerado, ser nova criatura, é vida em comunhão com Deus pela graça de Cristo.

No outro extremo estão aqueles que buscam o Espírito Santo fora da palavra de Deus. Eles julgam conquistar e receber o dom do Espírito Santo por meio de suas orações, jejuns e obras de piedade. A estes Lutero respondeu: “O Espírito Santo vem a nós somente através da palavra de Deus e dos sacramentos e não fora deles. Se alguém julga ter sonhos e visões, deve julgar tudo isto à luz da palavra de Deus.” “Provai os espíritos” (1 Jo 4.1), recomenda o apóstolo João. Provar como? À luz da palavra de Deus, da Escritura. Os colossenses queriam a plenitude no espírito, poderes celestiais além de Cristo, o apóstolo Paulo lhes escreveu: “Toda a plenitude está permanentemente em Cristo” (Cl 1.19). A plenitude que os cristãos possuem em Cristo é completa, não porque o cristão é capaz de apropriar-se desta plenitude, mas sim, porque Cristo vem a nós e nos recebe, faz-nos membros do seu corpo e nos torna herdeiros do céu. Temos, estes bens, no entanto, em fé. Ainda não se revelou o que havemos de ser (l Pe 5.1). “O reino de Deus não vem com visível aparência” (Lc 17.20). Enfatizar a palavra de Deus sem o Espírito Santo é fé morta. Enfatizar o Espírito Santo fora da palavra de Deus leva ao misticismo. É preciso ater-se à palavra de Deus. Pois, pela palavra de Deus o Espírito Santo atua, chama, ilumina, santifica e congrega (Lc 24.44-47). Se alguém perguntar, por exemplo: Como você sabe que a Bíblia é a verdadeira palavra de Deus? Respondemos: Sei isto pela convicção que o Espírito Santo me dá. - E como você sabe que esta convicção vem do Espírito Santo? Sei isto pela palavra de Deus, que o afirma.

Esta é a graciosa ação de Deus Espírito Santo. Este trabalho do Espírito Santo pode ser rejeitado. Uma pessoa pode resistir ao Espírito Santo, quer por um tempo ou durante toda a sua vida. Assim no dia de Pentecostes alguns zombaram dos apóstolos, dizendo: “Estão embriagados” (At 2.13). Mais tarde Estevão teve que dizer ao povo de Israel e a seus líderes: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo, assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis”(At 7.51). E o apóstolo Paulo adverte: “Não entristeçais o Espírito” (Ef 4.30). Quando alguém rejeita insistente e persistentemente a admoestação do Espírito Santo, o Espírito Santo se retira da pessoa. Jesus disse: “E o último estado daquele homem se torna pior do que o primeiro” (Lc 11.26).

VI - A FÉ CRISTÃ
A fé cristã é um dom de Deus. Dom é um presente. Deus dá a fé. Ele a dá por meios. Ele quer gerar a fé em todas as pessoas que ouvem a palavra de Deus e recorrem aos sacramentos. Pois, ninguém pode crer por “própria razão ou força,” visto sermos, por natureza, espiritualmente cegos, mortos e inimigos de Deus (1 Co 2.14; Ef 2.1; 1 Co 12.3). Mas, pela palavra de Deus, o Espírito Santo atua poderosamente nos corações daqueles que não lhe resistem obstinadamente, e gera neles a fé. “A palavra de Deus é o poder de Deus” (Rm 1.16). A palavra de Deus dá o que requer. Por isso, “ao ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações” (Hb 3.8).

E o que é a fé cristã? A fé cristã não é simples conhecimento de algumas verdades bíblicas, mas é um conhecimento vivo e atuante. Em que sentido? Pela palavra de Deus o Espírito Santo ilumina a pessoa. Isto é, a pessoa reconhece o Deus triuno como o único Deus; estremece diante da santidade de Deus, reconhece ser um mísero pecador, réu da eterna condenação; reconhece também, pelo evangelho, o amor de Deus em Cristo Jesus, que reconciliou a humanidade com Deus por seu sacrifício na cruz (justificação objetiva). A pessoa sabe: Jesus é o meu único e suficiente salvador e se alegra nele (justificação subjetiva). A fé cristã se apega à palavra de Deus, especialmente às promessas da graça. Ela diz: Jesus é o meu Salvador e Senhor. E ao se firmar nas promessas, ela é corajosa. Ela não se estriba em seus próprios pensamentos, sonhos e desejos. Por outro, a fé em si não é causativa. Isto é, ela não tem poder em si mesma. O poder é de Deus, à quem a fé agarra em sua palavra (ordem e promessas). A fé não tem nada a ver com simples pensamento positivo. O pensar positivamente é firmar-se sobre si mesmo. A fé não se firma em si mesma, mas se apega às promessas de Deus. Por exemplo, se minha consciência me acusa de pecado, vou examinar-me à luz da palavra de Deus. Se errei, preciso me arrepender. Então recorro à graça de Cristo. Firmado na palavra de Deus, posso dizer à minha consciência: Fique quieta! Você não tem mais o direito de me acusar. Meu pecado foi pago por Cristo em quem confio. Pela palavra de Deus o Espírito Santo age poderosamente e me concede paz. - Se preocupações me perturbam, recorro à palavra de Jesus: “Não andeis ansiosos” (Mt 6.31-34). Em oração lanço minhas preocupações sobre Jesus (1 Pe 5.7), e peço que Cristo me assista. Recito para mim salmos e hinos. O Espírito Santo atua no coração. A paz volta. Isto pode ser muito semelhante à ginástica do pensamento positivo, mas é radicalmente diferente. Lidamos com a palavra de Deus, pela qual o Espírito Santo age poderosamente. Se por um motivo ou situação perigosa, o medo da morte me assaltar, recorro à palavra de Deus: “Não temas. Eu venci a morte” (Lc 12.4,32). O Espírito Santo atua no coração e o acalma. Assim o Espírito Santo age por meio da palavra de Deus e dos sacramentos.

Como filhos queridos do Pai, não impomos ao Pai a nossa vontade. Oramos como filhos. Expomos ao Pai, como filhos queridos, nossos desejos, anseios e sabemos que o Pai nos escuta e fará aquilo que lhe apraz, aquilo que realmente coopera para o nosso bem, o bem estar dos que nos cercam e do seu reino (Jo 15.16). Por isso dizemos com toda a humildade e confiança: “Seja feita a tua vontade.” Isto não é duvidar das promessas de Deus. A oração de fé não se baseia em suas próprias forças, mas no condicional de Deus: “Se for de tua vontade.” A força da fé também não depende de correntes de oração, como se o clamor de muitos pudesse mover o Pai a atender os pedidos. Se clamamos como família de Deus, também o fazemos no condicional. A oração de fé também não é negociata com Deus: Senhor, prometo ou dou isto ou aquilo, se atenderes o meu pedido. Quando a fé não tem ordem e promessa expressa de Deus, o cristão coloca seu pedido no condicional: “Se for de tua vontade.”

VII - SINAIS DA FÉ
Como posso saber se estou na verdadeira fé cristã? O apóstolo João dá a resposta em sua carta : “Nisto conhecemos que permanecemos nele ...Aquele que permanecer no amor permanece em Deus, e Deus nele.” (1 Jo 4.13-21). Quais são os sinais? O primeiro sinal é em relação ao objeto da fé: Reconhecer a Jesus como Filho de Deus, Salvador do mundo, o meu Salvador. A fé cristã se apega ao amor que Cristo nos revelou em sua paixão e morte de cruz, pelo qual reconciliou a humanidade com Deus. Este amor de Cristo, que é o perdão dos pecados, nos concede paz, alegria e esperança. Este amor nos leva a amar a Deus e ao próximo, que são os frutos da fé. O amor a Deus se revela no apego à palavra de Deus, na luta contra o pecado e no empenho por vida santificada. Estes são os sinais da verdadeira fé cristã. Enquanto que a justificação é perfeita, a santificação é imperfeita. Por isso, quando a lei nos acusa e nos diz: Veja, como você ainda é pecador. Você não é cristão. Você não tem nenhum dos sinais da fé. Então não devemos olhar para dentro de nós, para o Cristo “em nós” (fé subjetiva); sob a acusação da lei cumpre-nos olhar imediatamente para o Cristo “por nós” (fé objetiva) na cruz. Nosso consolo e fundamento da fé não está em nós, mas fora de nós, no Cristo que morreu “por nós” na cruz..

Se o Espírito Santo é um dom tão precioso, se ele nos guia na verdade, nos fortalece a fé, nos enche o coração de amor a Deus e ao próximo, como é possível haver entre os cristãos ainda tantas dúvidas, tantas fraquezas, tantas imperfeições? Diante desta pergunta é importante lembrar que, apesar de sermos, como cristãos, templos do Espírito Santo, temos ainda nossa natureza carnal, que nunca muda, que está sempre inclinada para todo o mal, que luta contra o Espírito e contra a fé. Nossos pais expressaram isto assim nas Confissões: “Somos simultânea e totalmente pecadores e santos.” O cristão, conforme sua natureza carnal, é totalmente pecador. O apóstolo Paulo confessa: “Eu sei que em mim, isto é, na minha carne não habita bem nenhum” (Rm 7.18). Ele afirma isto como apóstolo. E conforme sua fé, o cristão é totalmente santo, porque Deus lhe perdoa abundante e diariamente todos os pecados, o declara justo e santo. Assim, conforme a carne somos totalmente pecadores e conforme a fé totalmente santos. Isto estabelece uma luta interna. Nossa fé luta contra nossa carne e a carne contra o Espírito. E “os que são de Cristo Jesus crucificam a carne, com suas paixões e concupiscências” (Gl 5.24). Isto requer do cristão permanente apego à palavra de Deus, oração sem cessar e vigilância. Nesta luta, há altos e baixos. O Espírito Santo nos assiste em nossas fraquezas e nos fortalece (Gl 5.25). Há cristãos fortes e fracos na fé; há, na vida de cada cristão, momentos de fraqueza e momentos de vitória sobre o mal. A luta diária, é sinal de estarmos na verdadeira fé cristã. Por outro precisamos lembrar que há na igreja cristã também hipócritas. Pessoas que confessam a Cristo com a boca, mas não crêem. É o joio no meio do trigo, do qual Cristo fala (Mt 13.25). Além disto há também falsos profetas. Uma característica dos dias finais (Mc 13.22).

VIII - DONS
Hoje, fala-se muito nos dons do Espírito e na importância de se buscar estes dons. Alguns lêem as passagens referente aos dons como lei. Falam da necessidade de cada um descobrir o seu dom e, então, buscar um campo de ação. Alguns afirmam terem dons de curar, de falar em outras línguas, etc. E outros ficam muito preocupados e dizem: Não sei, não tenho dons especiais. Será que sou cristão? É importante lermos estas passagens de forma evangélica, e lembrar que Cristo concede dons “quando e onde lhe apraz” (1 Co 12.11). Deus concede os dons na medida em que ele os julga necessários. Os sinais “hão de acompanhar” (Mc 16.17) até onde e quando Jesus o julgar necessário. E nisto Deus nos dá um conselho: “Procurai com zelo, os melhores dons” (1 Co 12.31). O que significa isto? Qual o parâmetro para se saber quais são os melhores dons? Infelizmente, acentua-se hoje, os dons antes do ofício. Isto é inverter as coisas. Cabe-nos olhar em nosso derredor para o nosso campo de ação e descobrir ali as necessidades das pessoas, da congregação, da igreja e então agir sobre as mesmas em amor, conforme nossa responsabilidade como pai, mãe, filho, filha, patrão, empregado, cidadão, autoridade (Cf.: Cat. Menor, Tábua dos Deveres). Isto nos leva à oração, para pedirmos a Deus forças, habilidades, dons, recursos para servir. Isto é o contrário da busca de dons para auto projeção, ou auto realização, ou à base da exigência da lei. É importante notar que Jesus, ao conferir a Pedro novamente o apostolado não lhe perguntou sobre dons e habilidades, mas uma coisa só: “Pedro amas-me mais do que estes?” (Jo 21.15).

IX - MOVIMENTOS CARISMÁTICOS E PENTECOSTAIS
Os movimentos carismáticos e pentecostais dão grande ênfase aos carismas, aos dons, e acentuam a obra do Espírito Santo. Com relação a estes movimentos, que perpassam quase todas as denominações, cabe-nos ressaltar ainda o seguinte:

9.1 - Pregamos a Cristo e este crucificado - O centro da mensagem cristã “é Cristo e este crucificado” e não o poder e a glória de Cristo. A grande glória de Cristo, que os evangelhos destacam, é o fato de Cristo ter dado a sua vida “por nós.” “O seu sangue nos liberta de todos os pecados” (1 Jo 1.7). Seu poder e sua glória são importantes, mas não nos salvam em si. Saber que Jesus tem poder e toda a autoridade e glória não nos salvam. O trabalho do Espírito Santo não é chamar a atenção sobre si e sua obra, mas “glorificar a Cristo nos corações” (Jo 16.14). E qual é a glória de Cristo? Que ele deu sua vida pela humanidade na cruz, a fim de nos reconciliar com Deus. Somos convidados a olhar para Cristo “por nós,” e não no Cristo “em nós.” O Cristo “em nós” (Jo 14.23) é uma realidade, mas não a fonte de nosso consolo, mas é conseqüência. Trocar estes dois fatores é como basear a salvação em obras em vez de na graça de Cristo. Nosso consolo é a fé objetiva, que confia na palavra escrita da Bíblia, que nos mostra a graça de Cristo, à qual se apega. Os frutos da fé são as boas obra, o que Cristo faz em nós, a santificação (fé subjetiva). A santificação interna é imperfeita e tem altos e baixos.

Por isso, não pregamos a nós mesmos, a nossa experiência. Infelizmente vemos isto em muitos pregadores. Eles pregam suas experiências. Por exemplo: “Eu fui alcoólatra, agora Cristo me transformou. Eu tive uma experiência maravilhosa, quando o Espírito Santo desceu sobre mim. Falei em línguas, etc. Os profetas e apóstolo não pregaram suas experiências, mas o que Deus fez em Cristo por eles. Uma e outra vez mencionavam as transformações, mas não como ponto de partida para converter outros. Imagine se os apóstolos e a virgem Maria tivesse se levantado no dia de Pentecostes para dizer: “Hoje de manhã tivemos uma experiência sem igual. Foi maravilhosa.” E Maria talvez diria: “O que experimentei hoje não se compara a nada, nem à concepção nem ao momento do nascimento de Cristo.” Não, eles não pregaram suas experiências, mas as grandezas de Deus, a Cristo e este crucificado.

9.2 - Teologia da cruz versus a teologia da glória. - Teologia é o ensino de Deus. Teologia da cruz tem como centro a cruz de Cristo. A teologia da glória tem como centro o poder e a glória de Cristo. As duas afirmações são verdades bíblicas. A questão está na ênfase que se dá à estas doutrinas. a) Humilhação de Cristo. Cristo se humilhou profundamente até à morte de cruz. “A humilhação de Cristo consistiu em não ter Cristo usado sempre e inteiramente a majestade divina, comunicada à sua natureza humana” (Cat. Menor, perg. 155). Assim sua igreja aqui na terra continua sob a cruz, em humilhação. “Agora sois filhos de Deus e ainda não se revelou o que havemos de ser” (1 Jo 3.2). Sofremos injustiças, estamos expostos a doenças e à morte (At 14.22). “Semeia-se em desonra” (1 Co 15.42). O erro da teologia da glória é aplicar aos cristãos do Novo Testamento, promessas específicas que Deus deu ao povo de Israel no Antigo Testamento, como se a vida cristã fosse o céu na terra. Por exemplo, Deus prometera aos filhos de Israel que, se eles fossem fiéis, Deus os abençoaria em todos os sentidos. Pois eles deveriam se destacar até pelo exterior, na forma de vestimenta, das comidas e na forma de culto do resto dos povos, para serem uma luz no mundo. Muitos querem aplicar estas profecias, dadas especificamente ao povo de Israel, à igreja do Novo Testamento. Mas Deus não prometeu isto à sua igreja no Novo Testamento. Pelo contrário, ele lhes disse: “Como me perseguiram a mim, também vos perseguirão” (Jo 15.20). Deus protege seus filhos e mesmo assim trilhamos pelo vale da sombra da morte. b) Exaltação de Cristo. Após sua ressurreição, Cristo foi exaltado. Ele está à direita do Pai e governa com poder sobre todos, com graça a sua igreja, com glória sobre os que já estão com ele no céu. Nos seremos exaltados após a morte e nosso corpo experimentará a glória no dia da grande ressurreição dos mortos, no dia do juízo final; ou se nos for dado o privilégio de vermos sua vinda em glória em nossa vida. Mas enquanto estamos aqui na terra, estamos sob a cruz.

Em resumo. O cento da pregação bíblica, para geração da fé salvífica e sua conservação, não é a pregação do poder e da glória de Cristo, nem as bênçãos corporais e materiais que Deus distribui como lhe apraz; mas a pregação “Cristo, e este sacrificado,” para salvação e perdão dos pecados. E a correta distinção entre lei e evangelho.

Vamos relembrar a diferença entre Lei e Evangelho. São duas doutrinas que perpassam toda a Bíblia. Não devem ser separadas nem misturadas. A lei não conhece misericórdia nem perdão. Ela exige, ameaça e condena. Pela justiça da lei ninguém alcança a salvação. A lei leva ao reconhecimento de pecados, da ira de Deus que pesa sobre nós e mostra que precisamos um salvador. O evangelho é a boa nova da salvação que Deus Pai preparou em Cristo para toda a humanidade. É a doutrina central da Bíblia. O evangelho anuncia o perdão de Deus. Dele vem toda a consolação. Vejamos a diferença entre Lei e Evangelho:

1. A lei ensina o que nós devemos fazer ou deixar de fazer;

o Evangelho, o que Deus fez e ainda faz para a nossa salvação.

2. A Lei nos manifesta o nosso pecado e a ira de Deus;

o Evangelho, o nosso Salvador e a graça de Deus.

3. A Lei exige, ameaça e condena;

o Evangelho, ao contrário, nos promete, dá e sela o perdão, a vida e

a salvação.

4. A Lei provoca a ira e mata;

o Evangelho chama e atrai a Cristo, opera a fé e desta maneira nos

vivifica.

5. A Lei deve ser pregada aos pecadores impenitentes;

o Evangelho aos atemorizados.

X - O DOM DAS LÍNGUAS
O dom das línguas, neste contexto, é outro assunto muito discutido. Já foram escritos muitos livros a favor e contra. Não temos aqui espaço para uma exposição minuciosa. Queremos, no entanto, chamar atenção às principais afirmações do apóstolo Paulo em sua carta aos coríntios.

O apóstolo fala do dom das línguas, como usado no culto público. A grande pergunta que se coloca é: Este é o mesmo dom das línguas que os apóstolo receberam no dia de Pentecostes ou um falar diferente? A língua serve para comunicar. A confusão das línguas na torre de Babel (Gn 11) foi um castigo de Deus sobre o orgulho humano. No dia de Pentecostes Deus concedeu o dom de falar em línguas com a finalidade de comunicar “as grandezas de Deus (At 2.11),” o amor de Deus revelado em Cristo. Os coríntios queriam experiências místicas com Deus. O apóstolo lhes diz: “Outrora éreis gentios, deixáveis conduzir-vos aos ídolos mudos, segundo éreis guiados” (1 Co 12.2). Eram experiências místicas. Mas o Espírito é dado “visando um fim proveitoso” (1 Co 12.7). No caso das línguas, que as pessoas entendam o que se diz. “Procurai com zelo os melhores dons” (1 Co 12.31). Isto é, aqueles que servem para propagar o evangelho. “Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis. Pois quem fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando. O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja ... ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar para que a igreja receba edificação” (1 Co 14.l-5). Vamos comentar este trecho. Profetizar é pregar, expor a palavra de Deus. E isto deve acontecer em língua que os ouvintes compreendam. “O que fala em outra língua,” isto é, numa língua que os ouvintes não entendem, mas o que fala entende o que fala a Deus. Ele fala mistérios. Mistérios para quem? Não para si, mas para os ouvintes. Ele ao relembrar a palavra de Deus e meditar sobre ela, é edificado. Não há edificação por algo que não se entende. Se alguém quer falar uma palavra a uma comunidade, mas não fala a língua dos irmãos, muito comum naquela época, procure um interprete. Combine isto antes do culto. E se não encontrar interprete, cale naquele culto (1 Co 14.28). Paulo ainda diz: “Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas minha mente fica infrutífera (não produz fruto para os outros, os ouvintes).” Isto é. Se eu orar, digamos em japonês numa reunião de brasileiros. Eles não vão me entender, mas eu, que entendo japonês estou orando de fato. Pois sei o que estou dizendo a Deus, mas se falasse em público, ninguém o entenderia. Vou falar, só se, em combinação anterior, encontrar um interprete na congregação. Caso contrário, fico quieto. O apóstolo reforça esta interpretação dizendo: “Se um instrumento der um som incerto, quem o entenderá. “Assim, vos, se, com a língua não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? (v.9) ... serei estrangeiro para aquele que fala (v.11) ... Como o indouto dirá o amém (v.16) ... Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua (língua existente) ... no caso (se só produzem sons, sem sentido) dirão, porventura, que estais loucos?” (v.29). Vejam, não há dúvidas. O apóstolo Paulo fala do dom das línguas. Um dom, uma capacidade de falar línguas existentes para testemunhar a palavra de Deus a pessoas que falam esta língua. “E assim, a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). Portanto, todo o falar em língua que é um blá-blá-blá é fruto da imaginação, mas não dom do Espírito Santo. O dom do Espírito Santo visa um “fim proveitoso,” isto é, dizer o evangelho a alguém que precisa ouvi-lo em sua língua materna.

CONCLUSÃO
O Espírito Santo atua até os confins dos séculos. Por palavra e sacramentos, gera e mantém a fé. Fortalece a fé e concede dons. “Enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18). Isto é, “habite ricamente em vós a palavra de Deus” (Ef 5.18; Cl 3.15). Diante disto confessamos com nossos pais: “Creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé. Assim também chama, congrega, ilumina e santifica toda a cristandade na terra, e em Jesus Cristo a conserva na verdadeira e única fé. Isto é certamente verdade” (Catecismo Menor, 3º Artigo).

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