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segunda-feira, 19 de maio de 2008

Festa da Santíssima Trindade

Rev. Horst Kuchenbecker

Chegamos ao fim do primeiro semestre no ano eclesiástico, com as grandes festas da cristandade: Natal, no qual celebramos o amor de Deus Pai; Sexta-feira Santa, Páscoa e Ascensão, nos quais celebramos o amor do Filho e Pentecostes, no qual celebramos o amor do Espírito Santo.

No segundo semestre do ano eclesiástico, que começa com a Festa da SS. Trindade, não temos festividades especiais, mas meditamos sobre o amor do Deus Triúno, por isso chamamos este período de o “Período da Trindade”. Muitos denominam os domingos como Domingos após Pentecostes.

O primeiro domingo do segundo semestre é dedicado, de forma especial, à Santíssima Trindade. Esta doutrina é ensinada com muita clareza em toda a Bíblia, e não é uma evolução neotestamentária. As principais passagens do Antigo Testamento são: Gn 1.1-3, 26 (Jo 1.1-3), Elohim no plural; Nm 6.24; 2 Sm 23.2; Sl 33.6; 45.6,7 (Hb 1.8,9); Is 42.1; Is 48.16,17; Is 61.1. As passagens do Novo Testamento são: Mt 3.16-17; Mt 17.5; Mt 28.19; Jo 14.6; Jo 17.5,24; Rm 8.26,27; 2 Co 13.13; 1 Pe 1.2. Estas verdades foram magistralmente resumidas, após muitas lutas, estudos, e orações nos três Credos Ecumênicos, e refletidos em nossa liturgia e em nossos hinos.

Vamos, pois, meditar na doutrina da Santíssima Trindade, analisando os Credo Ecumênicos e os principais cânticos litúrgicos.

Deus

Quantos deuses há? Todas as pessoas são unânimes em responder: Há somente um Deus. Quem é este Deus? Aqui as respostas divergem. Jeová, Alá, Espírito Supremo, Energia suprema, o Deus Triuno, etc. Como saberemos onde está a verdade? É preciso dizer que homem jamais poderá descobrir ou alcançar a Deus, por mais que o tente. É preciso que Deus se revele ao homem. E Deus se revelou. Em Hebreus lemos: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo” (Hebreus 1.1-2 RA). Deus se revela a nós na Bíblia. Ali ele se revela como um Deus santo. Por isso confessamos em nosso Catecismo menor: “Deus é espírito; eterno, onipresente, onisciente, onipotente, santo, juto, verdadeiro, bondoso, misericordioso e gracioso (Cat. Menor, perg. 111). Jesus nos revela o Pai. “Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (João 14.9 RA). E: “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14.6 RA). Jesus nos revela o Pai. No seu batismo resplandece a Trindade. Ele disse: “Eu e o Pai somos um” (João 10.30 RA). A respeito dele o apóstolo Paulo afirmou: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4.12 RA). Vamos, com oração, meditar o que Deus nos revela em sua palavra sobre sua pessoa e obra. Nossos pais resumiram isto, após lutas e orações, com muita clareza e precisão em Credos e Confissões.

Credos e Confissões

Muitos não gostam de Credos e Confissões. Dizem que eles são desnecessários, são tradição humana, são fórmulas mortas e letra fria, pois a fé é algo bem pessoal do coração. Será? Não podemos concordar. Credos e Confissões são nossa resposta à leitura da Bíblia, são o testemunho fiel da fé, da doutrina, são uma bandeira que unifica os fiéis e uma barreira contra erros doutrinários. Santo Agostinho definiu os símbolos assim: “Símbolo é uma regra de fé breve e grande: breve, pelo número de palavras; grande, quanto ao peso das sentenças.”

O Credo Apostólico

Quando uma pessoa vinha de outras cidades para uma comunidade cristã, dizendo ser cristão, ela era perguntada sobre sua fé. A pessoa respondia, normalmente, com frases tomadas das cartas dos apóstolos. Assim surgiu o Credo Apostólico.

Já no ano A.D. 150, o bispo Ignatius de Antioquia, aprisionado em Roma entre os anos 110 -117, e condenado à morte pelo imperador Trajano, menciona em suas cartas, fórmulas confessionais. Existiam várias em lugares diferentes. No segundo século já encontramos o Credo Apostólico mais ou menos na forma atual.

O Credo Apostólico prima pela exposição positiva das principais e essenciais verdades bíblicas sobre o Deus Triuno e seu amor revelado em Cristo, o Filho de Deus. O Pai, criador e mantenedor de todas as coisas; Jesus Cristo, salvador da humanidade, o Espírito Santo, doador da vida.

Credo Niceno

O Credo Niceno surgiu em meio a lutas pela clarificação e defesa da verdade bíblica, no combate a erros doutrinários. O presbítero de Alexandria, Ário, (+336), ensinou que Jesus não era da mesma substância do Pai, a saber, não era verdadeiro Deus, mas somente semelhante, uma criatura excepcional. O Concílio de Nicéia (A.D. 325) rejeitou esta heresia e aceitou o Credo Niceno, que declara especialmente que Cristo é: “Deus de Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai.” Grego: “homo-ousios”= co-igual ao Pai, sendo rejeitado o “homoi-ousios” = semelhante ao Pai.

A falsa doutrina de Ário, no entanto, voltou a brotar. Surgiram novos debates e estudos. E o segundo Concílio geral, no ano 381, em Constantinopla (hoje, Istambul), rejeitou estes erros novamente, fazendo o acréscimo: “que procede do Pai”. A mesma matéria foi reafirmado no Concílio de Toledo, na Espanha, em A.D. 589, recebendo o seguinte acréscimo: “o qual procede do Pai e do Filho (latim: filioque).”

Após isto, surgiram outros debates em torno da pessoa de Cristo, que levaram à formulação do Credo Atanasiano, cuja autoria foi, por um engano histórico, atribuído a Atanásio de Alexandria (+ 373). Mais tarde notou-se que Atanásio só escrevia em grego, mas o Credo foi elaborado em latim.

O Credo Niceno clarificou a pergunta sobre o Logos, a palavra que emana do Pai, afirmando que Jesus é realmente Deus, da substância do Pai. Mas a pergunta sobre a “pessoa” de Jesus e o relacionamento entre as duas pessoas, a divina e a humana entre si, permaneceram abertas e geraram muitas outras perguntas e discussões. As perguntas que mais absorveram os debates foram: Quanto à pessoa de Cristo, a encarnação e a união das duas naturezas em Cristo. As confissões respondem: A união existe desde a concepção. Maria deu à luz ao Filho de Deus, (theotokos=mãe de Deus), não só à natureza humana de Cristo, mas ao “Logos”. As Confissões afirmam que Maria deu à luz ao “Logos” (Jo 1.14), ao Filho de Deus (Gl 4.4; Rm 9.5), ao “ente santo (Lc 1.35), ao qual Isabel chama de “o meu Senhor”(Lc 1.43). Outros diziam que a divindade perpassava a natureza humana, como por exemplo o fogo perpassa o ferro incandescente. Também este erro foi rejeitado. Cristo não é um ser duplo, com duas pessoas, como os nestorianos afirmavam, nem um ser composto de meio termo, que seria nem só divino, nem só humano. Mas Cristo é uma pessoa, divino-humana. Cristo é uma só pessoa, que tem uma completa natureza divina e uma completa natureza humana. As duas natureza estão unidas de modo a constituírem uma pessoa, uma individualidade. De sorte que há um Cristo, que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

“Cremos, ensinamos e confessamos que o Filho de Deus, ainda que desde a eternidade foi pessoa particular, distinta e inteiramente divina, e destarte, com o Pai e o Espírito Santo, verdadeiro, essencial, perfeito Deus, assumiu, contudo, na plenitude do tempo, também uma natureza humana na unidade de sua pessoa, não assim que agora haja duas pessoas ou dois Cristos, mas assim que Jesus Cristo é, agora, numa pessoa, ao mesmo tempo verdadeiro, eterno Deus, nascido do Pai desde a eternidade, e verdadeiro homem, nascido da bem-aventurada Virgem Maria” (FC DS, Art VIII.6).

Essa união pessoal das duas naturezas em Cristo é um profundo mistério (1 Tm 3.16). Todavia, para dar-nos uma pálida idéia, a Escritura a compara com a união que existe entre corpo e alma. “Nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Colossenses 2.9 RA). As duas naturezas não estão misturadas, de modo a formarem um novo composto. Nem uma se transformou na outro, perdendo sua própria identidade. Mas, à semelhança de corpo e alma, permanecem distintas. Também não existem lado a lado, como duas tábuas coladas, sem comunhão e inter-relação. A semelhança de corpo e alma, a natureza divina de tal maneira permeia e penetra a natureza humana, e a natureza humana é de tal maneira penetrada pela natureza divina, que ambas as naturezas formam uma só pessoa. “A união das duas naturezas é tão estreita e inseparável, que uma já não pode ser concebida como existindo sem a outra ou separada dela, senão que ambas devem ser consideradas em todos os sentidos unidas, todavia de modo tal, que cada uma retêm seu caráter essencial e suas peculiaridades como antes, e permanece impermista com a outra ... De sorte que onde está o Filho de Deus, a natureza divina, aí está igualmente o Filho do homem, a natureza humana. Desde o momento em que o Verbo se fez carne (João 1.14), a carne não está sem o Verbo, e o Verbo não está sem a carne. As duas naturezas são inseparáveis, embora distintas.” (Sumário, p. 90)

O Credo Atanasiano trata deste mistério com todo o respeito, firmado na Bíblia. Não procura resolver pela razão o mistério, mas vai somente até onde a Bíblia vai.

O Credo Atanasiano é o mais teológico dos três Credos. É chamado de o Credo Musical ou o Salmo didático, assemelha-se à Fórmula de Concórdia, entre as Confissões.

O que dizer das cláusulas condenatórias do Credo Atanasiano?

Um dos aspectos que destaca o Credo Atanasiano dos dois anteriores são suas frase condenatórias no começo, meio e fim. Vejamos:

- Aquele que quiser ser salvo, antes de tudo deverá ter a verdadeira fé cristã. Aquele que não a conservar em sua totalidade e pureza, sem dúvida perecerá eternamente.

- Aquele, portanto, que quiser ser salvo, deverá pensar assim da Trindade. Entretanto é necessário para a salvação eterna crer também fielmente na humanação de nosso Senhor Jesus Cristo.

- Esta é a verdadeira fé cristã. Aquele que não o crer com firmeza e fidelidade, não poderá ser salvo.

A base bíblica para tal afirmação são as palavras:

- “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho. Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai” (1 João 2:22-23 RA).

- “E todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo” (1 João 4.3 RA).

- “Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus” (1 João 5.12-13 RA).

As verdades do Credo Atanasiano são doutrinas fundamentais. Isto precisa ser ressaltado em nossos dias, nos quais, num falso espírito ecumênico, muitos dizem: Há um só Deus. Pouco importa como alguém o chama e invoca. Cada um tem a liberdade de invocá-lo a seu modo. E mesmo entre cristãos há pessoas que dizem: Invocar o Deus Triuno como Pai, Filho e Espírito Santo, ou chamá-lo de Deus Pai e mãe, etc, pouco faz, desde que feito com sinceridade e amor. Não! Não podemos pensar assim. Deus se revelou em sua palavra e quer ser adorado assim como ele se revelou. Adorar a Deus “em espírito e verdade” (Jo 4.24), significa adorá-lo assim como ele se revelou, no correto espírito bíblico, distinguindo também lei e evangelho, adorando em verdadeira arrependimento e fé. Por isso queremos permanecer firmemente apegados às nossas Confissões, conhecer e apreciá-las. Pois, quem não o crê assim, não tem a fé cristã, e não poderá ser salvo.

Sob estas sentenças condenatórias caem hoje as seguintes denominações: Judeus, Muçulmanos, Espíritas, Mórmons, Testemunhas de Jeová, Gnose, Legião da Boa Vontade, e outras filosofias orientais.

É importante notar ainda, que as Confissões Luteranas, como a Confissão de Augsburgo e a Fórmula de Concórdia, também contém condenações, como por exemplo ao afirmarem: “Ensinamos, confessamos e condenamos...” Elas condenam o erro, mas não afirmam que quem estiver neste ou naquele erro, não poderá ser salvo. Pelo contrário, admitem que mesmo ali onde erros são ensinados ao lado da verdade bíblica principal, pessoas podem chegar à verdadeira fé e alcançarem a salvação. Mas no Credo Atanasiano trata-se de algo essencial, sem o que ninguém poderá ser salvo.

Não foi intenção dos confessores pronunciar a sentença condenatório sobre pessoas que devido a certa simplicidade da mente ou por desconhecerem as verdades bíblicas fundamentais. Mas o Credo Atanasiano pronuncia a sentença condenatória sobre aqueles que propositadamente e por obstinação rejeitam estas verdades reveladas.

O que o Credo Atanasiano nos coloca com muita clareza, não pode ser descuidado. Não pode ser matéria de indiferença para uma pessoa ou um corpo de igreja. O pastor Johann Gerhard afirmou com razão: “Aqueles que ignoram o mistério da Trindade não conhecem a Deus.”

O uso do Credo Atanasiano nas igrejas da cristandade

A Igreja Católica Ortodoxa (do Oriente) aceita o Credo Atanasiano, porém sem o “e do Filho” (latim: filioque), mas não o usam em seus cultos. A Igreja Católica Romana o aceita e usa em sua liturgia. A Igreja Luterana o incluiu no Livro de Concórdia, mas o usa pouco em seus cultos. As igrejas reformadas, o aceitam, mas não o usam, provavelmente devido a sua aversão a credos e confissões.

Os cânticos litúrgicos que testificam da Trindade

Glória Patri (Glória ao Pai) - O Glória Patri um canto angelical, tem um valor doutrinal e devocional. Ele é usado logo após a leitura do Salmo, texto do Antigo Testamento, para mostrar a unidade entre os dois Testamentos. É uma clara confissão da Trindade. A base escriturística para ele é: Rm 16.27; Ef 3.21; Fp 4.10; Ap 1.6. Encontramos este canto incluído nos cantos litúrgicos, na igreja oriental, já desde A.D. 530.

Gloria in Excelsis (Glórias a Deus nas alturas!) - O Glória a Deus nas alturas menciona as três pessoas. É um hino de louvor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Um hino de louvor ao amor salvador do Deus Triuno. É uma confissão da encarnação de Cristo, de sua satisfação vicária e de sua contínua intercessão por nós. Ele fala da glória eterna de Cristo. Este canto é uma luz consoladora. Data do século quarto. Encontra-se na Constituição Apostólica (vii.47), como citado por Atanásio (em 373).

Te Deum Laudamus (A ti, ó Deus, louvamos) - Este canto é considerado o hino mais nobre da Igreja Cristã. Ele combina o louvor e a oração em estrofes de exaltação em ritmo e prosa. A base do hino é o credo e ao mesmo tempo reúne pedidos de significado universal.

A primeira referência a este canto temos no ano A.D. 500. Não se conhece ao certo o seu autor. Tudo indica que o compositor tenha sido Niceta, bispo missionário de Romesiana em Dacia (A.D. 335-444), contemporâneo de São Jerônimo e Ambrósio (+ 397).

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