tem também o direito de suspendê-las, bem como para fazer que sejam indiscutíveis. Declara-se
que milagres estão excluídos pela harmonia da natureza, ainda que a experiência em si seja alterável e indefinida. Os críticos disseram que a mente humana se afasta dos milagres, que o corpo inteiro das ciências modernas se dobra diante do fato enorme que o sobrenatural não existe. As estórias miraculosas, diz-se, que são criações duma era crédula e supersticiosa. Argumenta-se que não é preciso um esforço mental para tirar o elemento miraculoso do Novo Testamento. Os assim chamados eruditos “examinaram, com espírito científico, nossa Bíblia, e em cada passo acharam o relato de milagres como mítico ou lendário, como fato que não pode ser crido... Eles acreditam que milagres não acontecem, que nunca aconteceram, e que jamais acontecerão... O elemento miraculoso, assim se o mantém mais e mais, é o acompanhamento constante e supersticioso de todo e qualquer movimento religioso dos tempos antigos”91. Certo crítico pergunta, com referência à ressurreição de Cristo: “É, acaso, o testemunho suficiente para mostrar que um homem realmente morto... tornou à vida, passou por portas fechadas e ascendeu ao céu?” E acrescenta: “Não posso falar por outros, mas absolutamente, não posso, com estas evidências, crer tais fatos monstruosos”92.
A classe de críticos conservadores desejam salvar a Bíblia, que afirmam ser aqueles restos dos quais concedem serem verdadeiros, argumentando que milagres não precisam ser cridos, e que eles não são necessários para a verdade das Escrituras e da fé cristã. A maioria dos milagres do Antigo Testamento são negados, afirmando que eles são meros adornos poéticos e que não possuem qualquer conecção essencial com o fato. Dizem eles, que pode acontecer que tenhamos os milagres do Senhor sem ter o próprio Senhor. Acaso, não segue disso que possamos perder os
milagres do Senhor, e, ainda assim, reter a ele? É afirmado abertamente que o defensor de hoje tem algum interesse em minimizar o miraculoso dos milagres e em fazê-los parecer tão naturais quanto possível. O humor atual do público religioso gostaria de naturalizar não só os milagres, mas todo o mundo espiritual.93
Tendo estes fatos em vista, é essencial que, antes de tudo, saibamos o que é um milagre. A definição seguinte é aceita em geral: “Um milagre é um acontecimento revelado aos sentidos, onde há a presença dum poder pessoal que está acima do plano físico e humano, que atua para uma finalidade moral”. Com esta explicação, que inclui milagres, sinais e maravilhas, nos é possível dividi-los em três classes. Há os milagres da revelação constante de Deus na natureza e história, que são as muitas evidências de sua intervenção sobrenatural. Há os milagres ou ocorrências dentro do curso comum da natureza, que a força e o saber humano, conduto, não conseguem realizar, sem o poder criativo e providencial de Deus, que incluem todas as mudanças fisiológicas adequadas ao viver nos organismos vivos. Há os milagres ou fenômenos fora do curso da natureza e das leis estabelecidas, realizados por uma suspensão proposital da ordem física do universo, que incluem tanto os milagres da Escritura e os muitos casos de preservação sobrenatural.
Negar a existência de milagres na natureza que nos cerca, é negar a evidência de todas as percepções e o resultado de séculos de pesquisa. Por outro, negar os milagres da Escritura é negar a veracidade de todo o relato bíblico, pois é impossível separar o miraculoso da religião cristã, porque a religião toda é um milagre. Que o Antigo Testamento contém só poucas histórias
milagrosas, e que estas estão confinadas ao Êxodo e às vidas de Elias e Eliseu, como foi afirmado,
é, manifesto, tão inverossímil que uma única referência da Bíblia basta como refutação. Separar o
elemento miraculoso dos relatos do evangelho, é tirar a essência da narrativa do evangelho. Os milagres de Jesus foram selos e credenciais, porque foram sinais e características essenciais de sua missão. Caso removermos todas as referências a milagres, jaz perante nós um evangelho em ruínas.
Quanto à necessidade de milagres, e o fato que o Senhor assim achou necessário, devia bastar como justificativa de terem acontecido. O evangelho surgiu do ver milagres e é um registro e exposição desses fatos. Se a ressurreição de Jesus tiver sido uma ilusão, teria tido vida muito breve e participado do fato de todas as ilusões. E todos os demais milagres são críveis, porque estão associados com o milagre da ressurreição. A religião foi introduzida por meio do miraculoso entre os inimigos. Desta forma os milagres são o sinal e selo da aprovação divina. Deus não teria sancionado tais acontecimentos se tivessem sido mentira. Nenhum mágico poderia realizá-los. Os milagres foram feitos em defesa duma religião da justiça mais perfeita e da verdade universal, para que persista para sempre para mostrar o favor da beleza moral imaculada da Cristo e da vocação divina dos seus discípulos. É suficiente que nós saibamos, que Ele, por meio deles, revelou sua glória, Jo.1.14; 2.11, e que os milagres do Novo Testamento foram registrados para que creiamos que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e que, crendo, tenhamos vida em seu nome, Jo.20.31.94
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91 ) Goordon, G. A, Religion and Miracle, 23,45.
92 ) Parker, citado em Bruce, The Miraculous Element in the Gospel, 21.
93 ) Bruce, 1.c., 34,44.
94 ) Cf. Linberg,C.E., Apologetics, 80-83, 165; Jefferson, C.E., Things Fundamental, cap.VIII; Garvie, A.e., A Handbook of Apologetics, cap. III; Whately, R., Introductory Lessons on Morals and Christian Evidences, lição V-VIII; Mullins, E.Y., Why is Christianity True? Cap.XII; Benson, Chr., On Evidences of Christianity, Disc.VIII; Brace, C.L., Gesta Christi.